Ou seja, nem toda a marca “pode falar pelo todo”. É o caso da Gilette, como sinônimo de lâminas para fazer a barba; da BIC, como sinônimo de caneta esferográfica e do Prosecco, como sinônimo de espumante (e para os menos informados até do champagne: que horror!
GILETTE

Aparelho e lâmina de barbear – Primeiro aparelho da Gilette
Em 1900, o inventor americano King C. Gilette (filho de huguenotes franceses, donde o sobrenome) teve a ideia revolucionária de criar lâminas descartáveis, finas, baratas e ajustáveis a um aparelho bem prático, para permitir que os homens se barbeassem eles mesmos (sem a figura do barbeiro), geralmente em casa, e livres do risco da navalha.

King C. Gilette (arquivo Getty Images)
BIC
O segundo exemplo: a empresa francesa Bic e lançou a prática caneta esferográfica, que pela practicidade e preço logo caiu no gosto porpular. E não só do povão: até o Bolsonaro usava …
Já o terceiro caso nesta lista (deve haver muitos mais!) é o Prosecco, que no Réveillon do ano 2000 explodiu mundo afora como sinônimo de espumantes em geral (e até de Champagne!), numa jogada genial de fabricante e marqueteiros desse vinho típico do Vêneto, na Itália. Até porque como os seu similares mais sofisticados, espouca a rolha, faz borbulhas e tem “cara” de festa. Só que não é nem espumante clássico, como os seus similares: cava, em espanhol; sekt, em alemão; sparkling, em inglês; mousseux, em francês; frizzante, em italiano, etc) e, muito menos, Champagne.
Quais as diferenças? Vamos começar da maior para a menor: o champagne (em francês é masculino) é um espumante produzido com duas uvas tintas – Pinot Noir e Pinot Meunier, e uma branca, Chardonnay (*) — cujas parreiras são plantadas nos 32 mil hectares da região do mesmo nome, demarcada pela rigorosa legislação francesa com o selo AOC (Appelation d’ Origine Contrôlée) desde 1927. O “terroir” de Champagne engloba um mosaico de micro-vinhedos e uma equipe de cerca de 15 mil enólogos e de viticultores.
Já os espumantes (e os similares mencionados acima, com pequenas variações) são produzidos na sua maioria também com duas uvas tintas e uma branca, mas podem ser de só uma tinta e uma branca, ou uma só branca (os “blanc de blanc) e, em resumo, são o resultado do “aprisionamento” do vinho ainda em fase de fermentação, com muito gás carbônico, dentro de garrafa espessas (a pressão dentro delas atinge níveis de 5 a 6 atmosferas, iguais a um pneu de caminhão), vedados por rolhas grossas, por sua vez protegidas por gaiolas de arame ou de ferro.
E o Prosecco “de raiz” é produzido a partir de uma uva só, (varietal) do mesmo nome, originária do Vêneto, na Itália, como dissemos. É um espumante consumido há muito tempo nessa região, sobretudo em Veneza, sendo que por volta dos anos 80 entrou na lista dos modismos de verão. Começou no terraço do elegante Cipriani (hoje do grupo Belmond) e, claro, rapidamente se espalhou pelos cafés e bares da Praça São Marcos. Servido puro, ou misturado com suco de morango, “prosecco con fragola”, ou com dois dedos de Aperol e uma casca de limão/laranja na borda, formando o spritz.

Final: embora a maioria dos verdadeiros Proseccos seja 100% varietal, a legislação italiana permite a mistura de 15% de outras castas, que podem ser Verdiso, Bianchetta Trevigiana, Perera, Glera Lunga, Chardonnay, Pinot Bianco, Pinot Grigio e Pinot Nero (Pinot Noir). Hoje, ele é produzido em dezenas de países, inclusive o Brasil, com algumas adaptações.
É um espumante banal, com honrosas exceções, como o Fae Wisco, o Casa Bianca e outros da região de Valdobbiadene, raros e caros nas prateleiras dos pontos de venda brasileiros.
(*) Há champagnes “blanc de blancs” , elaborados apenas com uvas brancas e blanc de noirs, elaborado apenas com uvas tintas. Como sabem, pode-se fazer um vinho branco com uvas tintas (é só afastar as cascas do líquido antes de 10h de fermentação), mas não se pode fazer um vinho tinto, com uvas brancas.
Por Reinaldo Paes Barreto