Não, é digestivo. Aliás, a origem do adjetivo “espirituoso” para designar licores é curiosa. Através da História, sabemos que o clero sempre trabalhou produtos agrícolas, inclusive produzindo vinhos, cervejas, e licores, além de variada doceria. Eram incansáveis. No silêncio dos monastérios, sobretudo os monges, com a participação de alquimistas, procuravam obstinadamente soluções medicinais que prolongassem a vida. E para isso, passavam noites em claro, ou andavam quilômetros no calor ou na neve, (foto acima) em cima de cavalos ou jegues, para trocar bulas e receitas com outros cléricos – e até com bruxos.

Um monge em cima de um jegue, na neve

E o propósito não era, só, prolongar mecanicamente a vida. Eles tinham a ambição de colocar “espírito” nas bebidas alcoólicas, sobretudo nos licores, para que eles transmitissem inteligência, alegria e energia vital. Donde os antigos, como o meu pai, chamarem licores de espirituosos. E utilizam basicamente dois processos para a fabricação de licores de qualidade:  a maceração de ervas, frutas secas, raízes e folhas e a destilação. Por isso, licores são doces e de alto teor alcoólico, que varia de 20% a 58% por litro.

Garrafa de Cointreau, um clássico francês

Licores devem ser consumidos como digestivos, após refeições mais copiosas e ainda hoje são apreciados no Ocidente e Oriente, nas versões tradicionais, ou caseiras. Bebe-se licor em pequenos cálices, em temperatura ambiente. E, agora, uma novidade: uma nova modalidade de apreciá-los está surgindo. Prepará-los como drinques,  em copos longos, com gelo, para serem bebidos antes do jantar,  ou até “solteiros”, no fim da tarde, acompanhados por um salgadinho.

Licores como drinques

Em tempo: os licores são muito saborosos, têm o seu lugar no radar dos gourmets mas, atenção: são traiçoeiros. Parodiando o comercial do primeiro soutien, porre de licor a gente nunca esquece!

Por Reinaldo Paes Barreto