Estudo: sem telemóveis na escola, jovens compensam tempo perdido em casa
O bullying, as faltas de atenção durante as aulas, os problemas de saúde mental, o número elevado de horas gastas à frente dos ecrãs e o mau desempenho académico. São estas algumas das razões que levaram algumas escolas portuguesas a seguir a recomendação do Governo de proibição do uso de telemóveis nas instituições de ensino. Embora a intenção esteja lá, a verdade é que esta medida pode não se traduzir nos benefícios tão desejados, tal como mostra o novo estudo publicado pela revista The Lancet.
“É mais fácil proibir os telemóveis nas escolas, mas não é o mais eficaz”, começa por dizer a presidente da Confederação Nacional das Associações de Pais (CONFAP), Mariana Carvalho. “E este estudo mostra isso mesmo”, acrescenta.
A investigação da Universidade de Birmingham, que implicou mais de mil crianças de 30 escolas secundárias do Reino Unido, mostra que a restrição do uso de telemóveis em contexto escolar não melhora o comportamento dos estudantes, a respectiva saúde mental ou até mesmo o desempenho académico. Os resultados “sugerem que as políticas escolares restritivas actuais não influenciam significativamente a utilização do telemóvel e das redes sociais nem se traduzem em melhores resultados ao nível dos domínios mentais, físicos e cognitivos”, lê-se.
Para Mariana Carvalho, as instituições de ensino que no passado pediam “aos alunos para trazerem [estes aparelhos] para a escola” não devem interditá-los, mas “promover uma diminuição do uso” e “sensibilizar as famílias” para o mesmo.
O estudo mostra ainda que não se verifica uma diminuição de horas passadas à frente de um ecrã, como previa por esta política restritiva. Segundo o documento partilhado, grande parte dos alunos compensam em casa o tempo perdido no telemóvel, durante o período de aulas. “Adolescentes que frequentam escolas com políticas restritivas de utilização dos telemóveis passam menos tempo nestes dispositivos e nas redes sociais durante o horário escolar”, adianta a investigação. No entanto, não houve diferenças no tempo total gasto nos telemóveis e nas redes sociais ou diferenças na saúde mental e no bem-estar”, conclui.