Elas desembarcaram no Brasil trazidas pelos colonizadores portugueses no século XVI. No início, eram restritas às elites e também carregavam um forte viés religioso, como a organização de missas e procissões. O DNA dessa celebração, no entanto, vem de uma festa rural, telúrica: o fim da escuridão do inverno e a alegria do solstício de verão.

Mas o tempo foi rolando e essas festas foram adquirindo um formato popular e, claro, extremamente festivo, até porque no nordeste brasileiro elas coincidem com o início das chuvas e a safra do milho: tudo de bom! Tanto que em cidades como Caruaru e Petrolina, em Pernambuco, e Campina Grande, na Paraíba, rivalizam em público e animação com o Natal, o Réveillon e o Carnaval.

Mas a “razão de ser” desses megaencontros, no entanto, vem passando por uma reconstrução dos seus conteúdos e formatos, como resposta às exigências sociais e ambientais dos nossos tempos. É cada vez mais frequente, por exemplo, que se observem e pratiquem procedimentos mais corretos, como os que se seguem:

  1. Desconstrução dos estereótipos do caipira e da saloia, como personagens simplórios (o jeca) com trajes, sotaques e adereços caricatos;
  2. Respeito à novas redes da diversidade de gêneros e raça: presença de grupos LGBT e Drag Queens quanto às opções sexuais; na região amazônica, sobretudo nas comunidades ribeirinhas, procissões fluviais, danças à beira dos igarapés e até comidas da floresta;
  3. Responsabilidade ambiental: em vez de fogueiras reais, fogueiras cenográficas, com projeções luminosas; lixo reciclável; utilização de materiais biodegradáveis e, sobretudo, presença de uma culinária produzida por pequenos cozinheiros e doceiras da vizinhança, com produtos naturais/orgânicos;
  4. Resgate dos valores regionais/ancestrais: preferência pelos produtos da safra agrícola de cada região; novas versões de música e danças: já há jovens DJs mixando o clássico forró com baião e xote; quadrilhas com novos ritmos e movimentos, inclusive com figurinos modernizados e enredos temáticos;
  5. Finamente, festas juninas virtuais – uma herança da pandemia – em locais com difícil acesso, ou agregando enfermos e pessoas com problemas de locomoção, como idosos e outros PCDs.

Ou seja, também no capítulo do entretenimento temático, como são essas festas, há um bonito esforço da sociedade para fazer da divergência a convergência em torno de um novo Brasil que dá certo.

 

Por: Reinaldo Paes Barreto