E o segundo marido de Iemanjá foi Olofin, também orixá, e tiveram 10 filhos, donde a representação da “matriarca do mar” com seios enormes, metáfora da amamentação de seus filhos.

Iemanjá com seios enormes
Mas por que a festa para Iemanjá é no dia 2 de fevereiro? Porque no século XVIII, e até fins de 1800, a festa de sua correspondente no sincretismo religioso no Brasil, que é N. Sra. da Conceição(*), era comemorada no dia 8 de dezembro, como é até hoje, mas o feroz preconceito dos senhores de engenho e da elite da época “barrava” a presença de negros e escravos na celebração da santa, seja nas catedrais portuguesas, seja nas igrejinhas e capelas dos engenhos., Resultado: esses excluídos foram achar outra data … e outra praia.

N. Sra. da Conceição e Iemanjá
Mas, se por um lado, N. Sra. da Conceição e Iemanjá têm em comum o mar salgado (batismo) – tanto que ambas são protetoras dos pescadores e navegantes e, portanto, do sustento das famílias – além da maternidade e do cuidado com os filhos, por outro lado há uma diferença “oceânica” entre as duas. A primeira e mais relevante é que Nossa Senhoras é imaculada e virgem e Iemanjá foi casada duas vezes e é sexy. Na Nigéria, Benin e Togo, por exemplo, ela é representada como uma Vênus de Iorubá.
E mais: a representação de Iemanjá com um corpo cheio de curvas, lembra as ondas do mar e os peixes … e as sereias. E, de novo, ao contrário de uma santa, Iemanjá é gulosa, vaidosa e não “pede” orações. Pede oferendas: rosas brancas, espelhos, perfumes e bebidas com bolhas: espumantes e até soda. E tem os seus pratos preferidos: peixes, acaçá, bolo de arroz, pata ou galinha branca, camarões, canjica, e o famoso Cuscuz de Iemanjá (ou Lua Cheia). Detalhe: também adora receber velas e rosas brancas, perfumes, sabonetes e bijuterias.

O cuscuz de Iemanjá
Dia 2 de fevereiro é o seu dia (e noite): bênção, Iemanjá. Proteja aqueles que entram ou estão no mar — e os que estão em terra, com medo da onda que está virando tsunami…
(*) Como a sincretização ocorreu de maneira diversificada ao longo do território brasileiro, em Salvador Iemanjá é identificada com a Nossa Senhora das Candeias, porque nessa data, 2 de fevereiro, os antigos cristão, em Roma, comemoravam a Purificação de Maria com uma procissão noturna à luz de velas (candeias).
Por Reinaldo Paes Barreto