No finzinho de 2001, o meu presidente de então (e dono do jornal aonde trabalhávamos), Luiz Fernando Levy, me chamou uma tarde e pediu que eu fosse fizesse uma vista visita de cortesia ao presidente da Vale do Rio Doce, embaixador Jorio Dauster para tentar colher alguma informação quente, já que a privatização da estatal era iminente e já fartamente divulgada.

 

Luiz Fernando Levy

Eu era diretor da Gazeta Mercantil, no Rio, e dois dias lá fui eu encontrá-lo no último andar do prédio cheio de estilo da mineradora, na Avenida Graça Aranha, projeto do Oscar Niemayer.

Para chegar a ele, claro, tive que me credenciar na recepção e recebi aquele papelzinho timbrado que tinha que ser assinado na saída, já que naquele tempo não havia crachá com QR CODE, e muito menos reconhecimento facial. Subi, passei por um salão de espera com umas três secretárias e um copeiro e, enfim, desembarquei no amplo salão do seu gabinete.

Embaixador Jorio Dauster

Ele me recebeu com a cortesia habitual, sempre espirituoso e meio sarcástico, (dizia mais palavrão do que as meninas de hoje) mas não vazou nenhum “furo” (diplomata tarimbado). Paciência! Uma hora e pouco depois já estava eu de volta ao saguão, para sair.

Só que (tem sempre um “só que”), como ele gentilmente me levou até o elevador, me esqueci de pedir para assinar o “habeas corpus”. E quando o entreguei ao gigantesco porteiro para tentar passar batido, o próprio se colocou na minha frente e …“Cadê a assinatura? O senhor não foi ver o presidente? Pois tem que pedir para ele liberar…”

Nem argumentei. Para ações kafkianas, reações chaplinianas.

Voltei para a fila dos elevadores, subi até 2º o segundo andar, saltei no hall, e eu mesmo rubriquei com a minha caneta um J e um rabisco “presidencial”. Esperei o dito elevador passar de volta, saltei no térreo, esperei umas duas ou três pessoas formarem aquela fila indiana para sair e, misturado a elas, entreguei o maldito passe de visitante. “Obrigado, senhor. Volte sempre”, disse mecanicamente o armário de ébano.

Já na calçada, esperando o carro do jornal que chamei pelo celular, perguntei a ele: “Amigo, o que é que você faz com esses controles?”.

E ele: “Aah, doutor, quando o pessoal da segurança não requisita, no fim do expediente, rasgo essa papelada e jogo naquela cestona ali…”.

Vida que segue.

 

 

 

 

Autor: Reinaldo Paes Barreto