O Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) aprovou um financiamento de R$ 1 bilhão para a construção, já em curso, de uma unidade de etanol de segunda geração (E2G) da Raízen, no interior de São Paulo.

Apesar de a operação ter sido acertada a taxas subsidiadas, a reação do mercado foi negativa, já que a empresa vem divulgando esforços para reduzir sua alavancagem, de 2,6 vezes no fim de setembro. As ações da Raízen na B3 caíram 5,12% no pregão de ontem, para R$ 2,04. Em um ano, os papéis da companhia já recuaram 49%.

Entre os esforços da empresa para aliviar a carga financeira está a revisão do plano de expansão de E2G, que inicialmente previa 20 plantas em operação até 2030. Sob a gestão do novo CEO Nelson Gomes — que substituiu Ricardo Mussa em novembro, antes do fim de seu mandato — , a Raízen deve reduzir a ambição na área.

Além disso, a companhia também tem feito desinvestimentos, o que já resultou na venda de seus projetos de energia solar e de uma parcela de sua participação no negócio de distribuição de combustíveis no Paraguai. A Raízen tem quatro usinas de E2G já construídas e mais duas em construção, com previsão para entrarem em operação ainda neste ano.

Com o BNDES, a Raízen acertou a contratação de R$ 500 milhões por meio do Programa BNDES Mais Inovação e os outros R$ 500 milhões via Fundo Clima. Segundo estimativas de mercado, as taxas de juro tanto da operação pela linha Mais Inovação como via Fundo Clima devem ficar próximas a 8% ao ano. BNDES e Raízen não comentaram sobre as taxas.

Apesar de o custo estimado estar em torno de 7 pontos abaixo da Selic, a preocupação do mercado é de que o retorno dos projetos de E2G seja baixo. Um relatório recente do BTG Pactual estimou que a taxa interna de retorno (TIR) seria de 9% ao ano, patamar que apenas cobriria o custo de capital. Para um analista do setor, esse retorno é baixo.

O Fundo Clima passou a ser utilizado pelo BNDES para financiar diversas operações de construção e ampliação de indústrias de etanol de milho no ano passado, como a da FS em Querência (MT) e da Coamo em Campo Mourão (PR).

A unidade da Raízen que terá recursos do fundo está sendo construída em Andradina (SP) e terá capacidade instalada de produção de até 82 milhões de litros por ano, como suas demais usinas de E2G.

Ao todo, o projeto prevê investimentos de quase R$ 1,4 bilhão e a geração de mais de 1.500 empregos diretos na fase de construção e 200 durante a operação. Na construção das plantas de E2G em Valparaíso (SP) e Barra Bonita (SP), a Raízen gastou R$ 1,2 bilhão até o fim de outubro.

BNDES destacou que o biocombustível é aplicável em diversas frentes, como o combustível de aviação (SAF), hidrogênio verde e combustível marítimo. Procurada, a Raízen não comentou.

“O apoio do BNDES para a construção de uma unidade de etanol avançado vai contribuir para a expansão da fronteira tecnológica brasileira, além de atrair mais investimentos para a cadeia de fornecedores de insumos, máquinas e equipamentos. E o banco dispõe dos instrumentos fundamentais, como o Fundo Clima, que apoia projetos que visam a descarbonização, com apoio à produção de biocombustíveis, e o Mais Inovação, que impulsiona o desenvolvimento de tecnologias disruptivas e que agreguem valor à produção nacional”, afirma o presidente da instituição, Aloizio Mercadante.

Segundo o BNDES, a produção de E2G no mundo representa menos de 1% da produção total de etanol no Brasil. Em 2024, a produção nacional de etanol alcançou 34,2 bilhões de litros.

Com as unidades da Raízen programadas, o Brasil terá uma capacidade de produção de 440 milhões de litros de etanol celulósico nos próximos anos.

Para o diretor de desenvolvimento produtivo, inovação e comércio exterior do BNDES, José Luís Gordon, “a ampliação da produção de E2G contribuirá para fortalecer a posição nacional como um dos principais produtores potenciais de novos biocombustíveis”. Segundo ele, apenas para SAF e combustível marítimo, a demanda mapeada pelo BNDES para investimentos é da ordem de R$ 167 bilhões. “São investimentos que garantirão a expansão da fronteira tecnológica brasileira”, afirma.