Em agosto do ano passado, quando das comemorações dos 100 anos do hotel, escrevi: “se alguém ainda duvidasse do prestígio que este símbolo da hotelaria, do estilo e da belle-époque carioca desfruta entre os cariocas, os demais brasileiros e parte do imaginário turístico internacional, o apelido carinhoso de “O Copa” já antecipa a razão de sua fama. Porque toda autoridade, cidade, bairro, instituição, e até obra literária que “cai” no afeto da população ganha um apelido (Boca Maldita, em Curitiba), diminuitivo (Maraca, para o estádio) ou aumentativo, como apelido.
Pois bem, ontem fui tomar um drinque em volta da piscina (Pérgola) com uma jornalista que está fazendo uma reportagem para um grupo “de memória” das Ilhas Canárias, sobre um “canarino” ilustre, Hans Henningsen, meu saudoso amigo, que foi o homem do esporte que levou a Puma a competir pau a pau com a Adidas, graças ao Pelé, e era um gourmê de mão-cheia. Fomos ao primeiro andar para ver a galeria de fotos dos hóspedes ilustres (do Rei Charles a Santos Dumont) e… nada. Tiraram tudo da parede! Por que será? Madona no Rio (em maio)? Seja qual for o motivo, se eu fosse o gerente geral dava “justa causa” a quem teve a infeliz ideia. E se fosse minha a ideia, pedia o boné…
Adiante, com uma curiosidade: além da elegância e majestade de seu estilo, inspirado no design de dois ícones da Riviera Francesa, o Negresco de Nice e o Carlton, de Cannes, na França, o Copa foi um dos responsáveis pela “apresentação da praia ao carioca”. Dantes, havia o “footing” pela calçada e o mergulho no mar. Mas a curtição do “território democrático” da areia, não.
E como foi essa “apresentação”? Foi assim. Antes do hotel ser fincado na areia, o morador-visitante do Rio só ia à praia com receita médica, por conta do sol, do sal e do iodo, como bem observou o Maneco Müller – pseudônimo do Jacinto de Thormes, o pioneiro da coluna social do eixo Rio-São Paulo — “até então, a cidade era virada para dentro”. Ou seja, dava as costas para o mar. Os bairros da época eram São Cristóvão, Tijuca, Botafogo e Laranjeiras, tudo escondido, fingindo não ser daqui. Até o Palácio do Catete, símbolo máximo do poder porque ali pulsava a República, foi construído com as janelas voltadas para a rua (do Catete) e longe, muito longe da deslumbrante paisagem da Baía e do Pão de Açúcar que, simplesmente, não era vista, ficava longe, separada do alcance visual de seus ilustres moradores (os presidentes e suas famílias) por um imenso jardim, onde as árvores serviam de muro para tapar o cartão-postal mais deslumbrante do Rio.
Explicação: mas a inauguração do hotel, em agosto de 1923 e imediata ocupação por hóspedes, sobretudo artistas estrangeiros que pela manhã atravessavam a rua e iam pegar “um bronze” na praia, antes e depois de um mergulho, o carioca começou a imitá-los e rapidamente a moda pegou.
Bingo!
Vida que segue.
Por Reinaldo Paes Barreto