A palavra é o instrumento vocal que permite aos humanos se comunicarem através de um código compreensível por todos os que falam a mesma língua. E até por quem não fala, mas identifica “a linguagem dos sons”, como certos animais (papagaio, cachorros, gatos, cavalos…).

Comercial do cachorro da RCA

E as palavras nasceram (e continuam nascendo) de uma matriz primitiva (pedra, flor), ou derivam de outras, que por sua vez são provenientes de outra do mesmo idioma (radical + sufixo = pedregulho, jardineiro, psicólogo), ou de outro idioma vivo (neologismos = turnê, bibelô, bidê, shopping, ranking), ou de uma língua morta, como o latim, grego antigo, e até o sânscrito e sumério (dinossauro, eutanásia, antídoto). Ou podem, ainda, resultar da aglutinação de uma palavra primitiva do mesmo idioma (água ardente + aguardente, vou-me em boa hora = vou-me embora, vossa mercê = vosmecê = você), etc. E todo esse sistema de estruturação verbal é codificado pelas gramáticas, que as estudam a partir da morfologia, da fonologia e da sintaxe.

Alfabeto grego antigo

Mas uma língua viva é dinâmica, e algumas palavras se libertam da “camisa-de-força” da morfologia-mãe e ganham significado próprio: são as utilizadas pela gíria, pelas “tribos” de certas idades ou de certas geografias (urbanos x rurais, bairro chique x periferia) , ou por profissionais de uma determinadas atividade socioeconômica (linguagem médica, militar, de bolsa de valores, de motoristas, de músicos, de publicitários, etc).

E, por fim,  as palavras que vieram das novas tecnologias e/ou dos instrumentos/objetos que foram criados por elas: “whatsapp”, “aplicativo”, “smartphone”, “YouTube”, “Spotfy” “streaming”,  e tantas outras.

E tem as atualíssimas, que entraram em circulação para o grande público há cerca de cinco anos, pouco mais, talvez: ChatGPT, Avatar, Chatbot, Algoritmo, IA, Cibersegurança, Internet das Coisas…

Ah, ia me esquecendo, mas tem, ainda (função quase psicossomática!) os vocábulos de desabafo, raiva, exaltação ou xingamento: o bom e sonoro palavrão. E para quem não sabe (e se interessa), os palavrões em português foram dicionarizados por vários autores brasileiros, sendo que o mais festejado é folclorista pernambucano Mário Souto Maior no seu Dicionário do Palavrão e Termos Afins, lançado em 1979, com prefácio do Gilberto Freyre.  Detalhe: embora possam ser “exclamados” apenas em formato de monólogo, o verdadeiro palavrão visa o diálogo —  nem que seja de uma boca só!

Alguém xingando o outro

Mas termino com duas lições que recebi de dois artesãos da palavra: 1) do mestre Guimarães Rosa, que dizia que há uma outra categoria de palavras: as que nasceram para ser felizes: beijo, saudade, mamãe, cafuné … e o oposto, as que nasceram para ser infelizes (e mal pronunciadas): estupro, braguilha, esgarçar, escarro … 2) e do fonoaudiólogo a quem consultei quando tive um pólipo nas cordas vocais, o genial Pedro Bloch, que dizia: “a gente só deveria falar para melhorar o silêncio”!

E mais não disse.

 

Por Reinaldo Paes Barreto