Solitário, eremita, João Batista viveu longamente no deserto coberto, apenas, com uma túnica grosseira de pele de camelo atada a um cinto de couro, alimentando-se de gafanhotos e mel silvestre. Quase certo, portanto, que NÃO quisesse participar da esbórnia que são os festejos em sua homenagem, no Brasil e no mundo, atualmente.

João Batista pintado por Portinari (detalhe do carneirinho)

No Brasil, por exemplo, come-se tudo que engorda e bebe-se à larga na noite de 24 para 25 de junho – e na sequência! Salgados e doces, sobretudo feitos com milho (é a época da colheita): canjica, pamonha, bolo e broa de fubá, além de doce de batata-doce, de abóbora, de cidra com rapadura, furundum de mamão em pedaços, pão de cará, pão-de-ló cortado, paçoca, pé-de-moleque, amendoim torrado, pipoca, cuzcuz e o que mais estiver no prato (leitão, frango da roça…)

E bebe-se — além de muita pinga — o tradicional quentão de vinho, uma espécie de grogue europeu traduzido “pro arraiá”. E dança-se a quadrilha, um baile “herdado” da polca e do minueto e cujo nome deriva do número dos dançadores, que ordinariamente é composto de quatro pares, mas que formam um mar humano em movimento.

Mas não só por aqui. Ainda hoje, o São João no Porto, em Portugal, rivaliza com o Réveillon em fogos de artifício, danças e sardinhas… e também na França, no Canadá e no resto da Europa, até porque como toda festa verdadeiramente popular esta também nasceu no campo, pagã, porque celebrava a entrada do verão (solstício) no hemisfério norte. Depois, a Igreja Católica incorporou o espírito da mobilização popular e o associou ao santo mais importante para a evangelização dos cristão daquele tempo, a começar pelo batismo. Detalhe: segundo alguns historiadores, essas festas juninas tiveram também um caráter de catequese, no Brasil, porque atraiam os índios ao convívio missionário. 

Na Umbanda, São João é Xangô. Mas no Catolicismo, São João era o primo mais velho de Jesus e foi quem o batizou. Aliás, no Brasil, batizou com o seu nome também as festas … juninas! Teve um fim horrível, como todos sabem.

Moral da história: confirmado. João Batista não iria a uma festa junina de hoje em dia.

 

Por Reinaldo Paes Barreto