Eles estão entre nós já faz tempo. Em São Francisco, nos Estados Unidos, por exemplo, foi inaugurado há alguns anos o “Cafe X”, em que o único funcionário gente apenas orienta o cliente a clicar no touchscreen  de um terminal  o código do pedido (filtrado, chafé, expresso, cappuccino) e passar a comanda para o robô. Este, “solícito”, prepara a infusão em 20 segundos, brincando com o freguês.

E aí a pergunta: se serve café, por que não vinho?

Bom, que me conste, não existe ainda o sommelier-robô circulando pelo salão de um restaurante. Mas já existem chatbots (abreviação de robô dos chats), ou seja, um software que gerencia troca de mensagens para atender os clientes. A  “Concha y Toro”, vinícola chilena do mesmo nome, lançou uma plataforma batizada de “Renato”, que funciona como um consultor virtual. Em linguagem simples e descomplicada, sugere harmonizações e a melhor relação de preço-produto. Acessível por celular.

Mas a revolução digital na gastronomia (como em dezenas de atividades) não é, em si, novidade e está sempre ganhando espaço. Há cerca de dez anos, surgiu no Soho, em Londres, o restaurante – Inamo —  em que as mesas já eram interativas e o cardápio diretamente projetado nelas, a partir de cápsulas no teto. Você usava, então, o seu dedo indicador como um mouse para escolher o pedido da comida e da bebida e, enquanto aguardava, podia “conversar” com outra mesa, em chat, acessar o Time Out digital e curtir a programação de teatros e cinemas, checar no mapa do metrô a conexão para um outro lugar, além de acompanhar em tempo real o preparo da sua refeição. E a quantas andava a soma das despesas até aquele momento.

Ou jogar xadrez “contra” o computador.

A seguir, vieram os menus e cartas de vinho consultados via iPads no local, ou pela internet/celular, à distância. Depois, as reservas via aplicativos. Com a pandemia e o perigo do contágio através de papéis e plásticos pré-manipulados, se popularizaram os QR Codes. No entanto, e um pouco na linha da “Destruição Criativa”, do Schumpeter, mesmo que cada inovação “se proponha” a revogar a anterior traz, consigo, o seu respectivo problema. No caso do serviço do vinho, sobretudo em restaurantes, o problema é um novo tipo de consumidor, de recente “cultura Google”, que acha que desnecessita da interlocução humana com o profissional da área: o sommelier. Se ele tiver vocação para enochato, então, é uma festa! É capaz de armar pegadinhas do tipo “você sabia” ou, então, despejar em voz alta uma enxurrada de sabenças (falar de aromas que lembram antigas gavetas, suor de cavalo, o vinho preferido por Napoleão…) enquanto o “pobre robô” é obrigado a ouvir calado, amaldiçoando o seu destino! Aliás, detalhe: ninguém “se torna” enochato.  Já é chato há muito tempo (ou de nascença) e anda pelo mundo à cata de uma linha do conhecimento — para expressar a sua chatice.

 

Epílogo: mas enquanto a “tirania robótica” não inverter os papéis e a gente encontrar sentado em um wine-bar, de taça na mão, um robô estalando os dedos para um sommelier de carne e osso, há esperança…

Por Reinaldo Paes Barreto