Em 1º de maio de 1884, a Federação dos Ofícios Organizados e dos Sindicatos de Trabalhadores de Chicago, nos EUA, haviam conseguido que o Estado de Illinois aprovasse uma resolução declarando que, a partir desse dia e ano, a jornada de trabalho legal seria de oito horas diárias, durante os cinco dias úteis da semana (contra as 14h que até então os operários tinham que cumprir a cada dia).

Beleza!

Só que (há sempre um “só que”) os patrões não gostaram nada da perspectiva e se opuseram imediatamente (nenhuma surpresa). Tampouco da reação: a Federação convocou então a classe operária para uma greve (*) geral, logo aplaudida e “aderida” por duzentos mil trabalhadores na cidade de Chicago. Reação? A polícia travou violento choque com os grevistas, causando a morte de muitos deles e prendendo outros tantos. Reação à reação? A sociedade civil, a imprensa e a opinião pública em geral reagiu violentamente contra essa violência de tal forma, que O Dia do Trabalho passou a ser formalmente comemorado nos Estados Unidos.

Só que (eu não disse?) para respeitar a versão oficial de que aquele primeiro de maio foi de desordem, a celebração americana foi transferida para a primeira segunda-feira de setembro. Aliás e por diversas razões, o Dia do Trabalho ou do Trabalhador não é, como para nós, comemorado no Primeiro de Maio: na Austrália, 4 de Março; na Espanha, 18 de julho, etc.

E, no Brasil, a data só foi declarada feriado nacional em 1949, pela Lei 662 assinada pelo Getúlio. Aliás, durante a Era Vargas (sobretudo o primeiro ciclo entre 1930-45) o Primeiro de Maio era o grande dia de medir o pulso do ditador, que desfilava de carro aberto pelo Estádio de São Januário, acenando sem cessar com a mão em concha, enquanto era  sonoramente aplaudido de verdade e também pela claque dos pelegos. Depois, deitava falação, é obvio.

Aliás, até muito recentemente, além do feriado e de um certo oba-oba político-sindical, o Dia do Trabalhador no Brasil, se expressava especialmente pelo esperado anúncio oficial do aumento anual do salário mínimo.

Esta ano de 2024, provavelmente também. Mas num exercício de futurologia, imagino novas profissões: técnico em manjo de drones, curador pessoal de conteúdo para mídias sociais, conselheiro de privacidade eletrônica, terapeuta de desintoxicação de iphones e, na outra ponta, (re)inventores de jogos para crianças e adultos que não tenham nada eletrônico (pular carniça, cabra-cega, pular amarelinha, pera, uva e maçã …).

Além de “cuidadores eletrônicos”, presenciais é claro, de idosos e de inexpertos digitais, que ajudarão esses sobreviventes da Galáxia de Gutemberg  a pagar as suas contas pela internet, promover “lives” com familiares e amigos distantes, manipular aplicativos e se tornarem ativos consumidores online (1,7 milhões de novos consumidores a cada ano, segundo pesquisa da MELI).

E ainda é capaz de surgir algum “ectoplasma” de carne e osso capaz de se esconder atrás de uma cortina semiaberta da janela da copa, para ver a vizinha (o) trocar de roupa no prédio em frente…

 (*) A palavra “greve” vem do francês e é um sinônimo meio arcaico de sable = areia. Isso porque as margens do Rio Sena, em Paris, eram de areia grossa e havia uma praça com este nome, aonde os desempregados e insatisfeitos (além de agitadores) se reuniam para protestar contra as más condições de trabalho. E se dizia: eles estão na – em – greve.

Voilà.

Por Reinaldo Paes Barreto