Os católicos praticantes observam a tradição de não comer carne nesta data, uma opção simbólica de solidariedade ao Cristo, no dia de seu maior sacrifício: a  crucificação e morte, após as 14 estações da Via-Sacra. É um ritual que vem da Idade Média. Mas não está na Bíblia.

Um católico menos rígido, contudo, não tem porque se privar de degustar estas duas refeições na sexta-feira, com ingredientes saborosos, mesmo sem carne. Afinal, como afirma o Padre Jorjão, Jesus também tinha o seu lado festeiro, haja vista as Bodas de Canãa. E aqui vão algumas sugestões, além do clássico bacalhau (*) em seus diversos preparos.

Por exemplo: ceviches e tartares; arrozes e risotos; massas (de todo tipo, com N recheios); quiches e empadões; legumes recheados com nozes, queijos, especiarias; suflês e omeletes; e preparos vegetarianos e veganos, que vão dos mais conhecidos como os hamburguers e strogonoffs de soja e tofu, ou soluções criativas que surpreendem. Como o “jacalhau”, receita preparada pela chef Carolyna Vaz, que usa a jaca verde como matéria prima de quibes, empadões e nessa bacalhoada “fake”, assunto da crônica desta semana da jornalista Cláudia Chaves, fera na crítica teatral mas uma doce comentarista das boas mesas do Rio de Janeiro. E mais: sopas e caldos, e o que eu prefiro: peixes, mariscos, crustáceos e todos os outros marinhos. Sobretudo ostras, sobretudo para o almoço:  meia dúzia de ostras certificadas, só com pingos de limão, escoltadas por uma taça de Sauvignon Blanc.

Finalmente, uma curiosidade: por que o coelho e o ovo são as logomarcas universais da Páscoa? Pelo simbolismo que um e outro representam para as duas maiores religiões do ocidente: o cristianismo e o judaísmo. Porque a existência está ali representada pelo ovo, véspera do nascimento – milagre da vida — e pelo coelho, cuja capacidade de gerar ninhadas é associada à necessidade das religiões de (re)produzir novos “filhos”.

Mas, e o por que do ovo de chocolate? Ah, surgiu na Europa, no final do século 17, em substituição aos ovos de galinha, cozidos e pintados, que antes eram escondidos nas ruas e jardins para serem caçados pelas crianças. E os pioneiros (claro!) foram os “chocolatiers” parisienses, que tiveram a ideia fabulosa de fazerem ovos de chocolate para agradar a criançada e, ao mesmo tempo, colocá-los na agenda gulosa dos adultos. E num remate de criatividade, os mais ousados confeccionaram coelhos de chocolate, como os desta vitrine que eu fotografei em Paris, na Rue de Rennes, em Saint Germain, há um par de anos, síntese cartesiana desses dos símbolos pasquais.

O mais importante, no entanto, é a sua atitude. Especialmente nesta semana, vista “roupas positivas”, impregnadas de boas recordações. Entre numa igreja — cheia ou vazia — e faça uma oração/reflexão. E, ao sair, olhe a vida pelo melhor ângulo, até porque a mensagem profunda da Páscoa é uma mensagem de esperança, renovação, que em sua essência  transmite a ideia de que a vida triunfa sobre a morte, e que há sempre a possibilidade de um novo começo — melhor.

(*) O bacalhau não é um peixe em sentido estrito. É um processo de ‘salga e secura’ de cerca de 60 espécies de peixes migratórios, inclusive o Arapaima gigas (pirarucu), que navega pelo nosso Rio Amazonas.

Por Reinaldo Paes Barreto