Os novos aparelhos celulares 2024 têm estrutura de titânio, design futurista, câmeras fotográficas com zoom, conexão com a Inteligência Artificial (Alexa, painel do seu carro, etc), colossal memória de dados e um serviço de mordomo: lembretes, despertador, infos sobre o tempo e temperaturas, SOS de emergências e o abrigo de aplicativos que cuidam diretamente de você.

Mas vale recuar no tempo. Em 1876, o imperador Pedro II deixou a sua zona de conforto em um dos três palácios, o Imperial, hoje Museu, em Petrópolis, ou os outros dois, no Rio,  e empreendeu a longa viagem da Praça Mauá até Nova York para participar da  Exposição Universal da Filadélfia (Centenial Exhibition), parte das comemorações pelos 100 anos da Declaração de Independência americana. Frequentou a gigantesca exposição todos os dias e  acabou tornando-se amigo do Graham Bell, o inventor do telefone (*).

Curiosidade: o aparelho inovador foi exposto no estande desse cientista escocês (filho e neto de professores de locução e ele mesmo um estudioso da ciência da acústica, com o objetivo de curar a surdez de sua mãe) mas – pasmem – ficou o tempo todo vazio de gente!  E vazio porque o telefone estava concorrendo com a lâmpada elétrica, a máquina de escrever e… o ketchup Heinz!

Ele foi cumprimentar o Graham Bell,  acompanhado por jornalistas e personalidades, e publicamente testou o sistema. Ao atenderem, exclamou: “Meu Deus, isto fala”, segundo a narrativa dos jornais da época. E encomendou 10 aparelhos. Menos de um ano depois, o Brasil já era o segundo país do mundo a ter telefone.

Vida que segue. Os aparelhos foram se modernizando. Primeiro, eram movidos à manivela; depois vieram os discos com números (daí discar um número de telefone); a seguir os presos na parede. Finalmente, os “soltos”. E na manhã de 3 de abril de 1973, o poderoso CEO da Motorola, Martin Cooper, desceu de sua sala e foi até a calçada da sede da empresa, na East Algonquin Rd, em Illinois, USA. E de lá, diante de centenas de jornalistas, fez uma ligação de seu aparelho celular DynaTAC 8000 para o telefone fixo do seu colega Joel Engel, CEO da ATT&T.

Estava concluída (e se iniciava) a maior revolução da telefonia contemporânea. Os aparelhos não pertencem mais a um lugar, nem a uma pessoa. Segundo o slogan do lançamento, os três AAA, eles podem ser usados (anywhere,  anytime, anyone).

Em qualquer lugar, a qualquer hora por qualquer um.

(*) Com financiamento do sogro americano, o Escritório de Patentes dos Estados Unidos concedeu ao Graham Bell a patente n° 174.465 que protege “o método de transmitir sons vocais ou outros, telegraficamente, causando ondulações elétricas, similares às vibrações do ar que acompanha o som vocal.”

Por Reinaldo Paes Barreto