O presidente das Infraestruturas de Portugal (IP), Miguel Cruz, lembrou hoje que houve consenso na Assembleia da República relativamente ao projeto da Linha de Alta Velocidade ferroviária e disse não antecipar atrasos devido à mudança de Governo.
O trabalho está a correr, houve aliás um consenso na Assembleia da República sobre este projeto da alta velocidade. […] Nós estamos a trabalhar e, desse ponto de vista, não antecipamos qualquer atraso, não só porque as coisas estão a correr, mas também porque houve um consenso específico sobre o projeto”, afirmou o presidente da IP, em declarações à agência Lusa, à margem do debate “Alta Velocidade Ferroviária”, promovido pela Proforum — Associação para o Desenvolvimento da Engenharia, em Lisboa.
A IP lançou no final de janeiro o primeiro concurso para a concessão da conceção, construção, manutenção e financiamento do primeiro troço da Linha de Alta Velocidade, entre Porto e Oiã (Aveiro), num modelo de parceria público-privada (PPP), e prevê lançar o segundo, para o troço Oiã-Soure, em julho.
Para tal, Portugal candidatou-se a 875 milhões de euros de fundos europeus para a primeira fase (Porto-Soure) da linha de alta velocidade ferroviária Porto-Lisboa.
Miguel Cruz disse hoje que há discussões ainda a fazer, nomeadamente sobre a terceira ponte sobre o rio Tejo e as opções que têm de ser tomadas na ligação Lisboa-Madrid, mas serão feitas ao mesmo tempo que decorrem os trabalhos.
“Temos tempo para os discutir e, com toda a franqueza, parece-me que existe um consenso muito grande sobre a necessidade de fazer este tipo de investimentos e de subir o patamar de nível de serviço associado à rede ferroviária e, portanto, espero que não haja aqui grandes perturbações”, apontou o também antigo secretário de Estado do Tesouro da equipa de João Leão à Lusa.
Questionado sobre eventuais recuos do novo Governo liderado por Luís Montenegro relativamente a decisões já tomadas, como a linha de alta velocidade em bitola (distância entre carris) ibérica e não europeia, ou a prioridade à ligação Lisboa-Porto e não Lisboa-Madrid, Miguel Cruz considerou que “haverá sempre algumas vozes a pronunciarem-se sobre estas matérias”, mas, na sua opinião, são temas que estão “suficientemente esclarecidos”.
“A ligação Lisboa-Porto tem de ser entendida como uma ligação importante, uma ligação que tem um caráter transformacional, mas o projeto da alta velocidade não pode parar aqui, tal como, aliás, aconteceu nos outros países”, acrescentou, vincando que o trabalho de discussão sobre a estratégia e as opções a tomar no futuro tem de continuar.
Durante o debate, o vice-presidente da IP, Carlos Fernandes, que foi o orador convidado, lembrou que não há nenhum país que tenha começado a construção da sua rede de alta velocidade por um eixo internacional e, relativamente à questão da bitola, defendeu que o uso da ibérica evita ter de construir ligações novas às cidades, permitindo que os comboios circulem nas diferentes linhas.
“Vamos ter sempre um problema de interoperabilidade, é só saber onde o queremos ter: se é a 1.000 km de Lisboa, para três comboios por dia [na ligação a Madrid], se é aqui à porta de Lisboa para todos os outros comboios”, apontou Carlos Fernandes, reiterando que “a bitola não é um problema agora”.
Já sobre a permanência de Miguel Cruz na administração da IP, o responsável que assumiu o cargo em agosto de 2022, por proposta conjunta do Ministério das Finanças liderado por Fernando Medina e do Ministério das Infraestruturas e Habitação liderado por Pedro Nuno Santos, manifestou disponibilidade e interesse em continuar associado ao desenvolvimento dos projetos em curso, mas frisou que não depende exclusivamente de si.
“Veremos o que é que acontece, isso certamente será objeto de discussão”, rematou.