A língua portuguesa é rica em expressões que lembram alimentos, ou situações gastronômicas. E a prova é que recebi esse texto anônimo de um amigo, apreciador da Boa Mesa, e o aproveito aqui, alterando um pouco a receita. Vamos lá: quem já não ouviu, ou não disse, isso é sopa no mel e mamão com açúcar para significar a facilidade ou a delícia de fazer isso ou aquilo? Por outro lado, quem já não alertou alguém, ou até a si mesmo, sobre o risco de comer gato por lebre, ou receber no colo uma batata quente? E quantas vezes para descascar um abacaxi a gente tem que meter a mão na massa, mesmo quando a vontade é chorar pitangas (escondido/a) ou mandar tudo às favas. Ou mandar lamber sabão.

Mas não resolve. O negócio é ir comendo o mingau pelas beiras, e cozinhando em banho-maria, porque é de grão em grão que a galinha enche o papo. Contudo, é preciso ter cuidado para não entornar o caldo, nem azedar o leite. E, muito menos, passar do ponto. Pisar na jaca é muito perigoso. O negócio é controlar a fervura e se conformar que às vezes a gente tem que comer o pão que o diabo amassou e aguentar calado, porque ninguém vai botar azeitona na sua empada. E tem mais: já vi casos em que Deus, só para testar, dá nozes a quem não tem dentes.

Amar? Ora, quem não arrisca, não petisca, mas atenção: a carne é fraca, a gente sabe mas, às vezes, o “depois” é osso duro de roer; e se avinagrar a relação, se embananar o dia à dia, tenha calma porque o apressado come cru mas, por outro lado, quem não arrisca, não petisca. Dê tempo, ao tempo. As coisas mudam da água para o vinho. De repente.

Mas chega de encher linguiça. Aqui vai o meu conselho: sempre que puder, puxe a brasa para sua sardinha e não se esqueça do “truque” do sábio  mineiro Tancredo Neves:  se tiver que engolir sapo,  mentalize que está degustando rã à provençal, com um Sauvignon Blanc na taça …

Por Reinaldo Paes Barreto