O nome oficial da capital carioca que faz aniversário neste 1º de março é de uma grandiloquência que não combina com a informalidade de nossa gente: São Sebastião do Rio de Janeiro? E por que essa associação entre o santo e a cidade? Tenho duas hipóteses. A primeira, devido a uma espécie de “gratidão religiosa”, ou seja, segunda a lenda, São Sebastião teria sido visto lutando ao lado dos portugueses contra os franceses e os índios tamoios na batalha final de 1567, pondo fim ao projeto ultramarino da monarquia francesa de fundar aqui a França Antártica.

Estácio de Sá deixa Bertioga rumo ao Rio

E a segunda, a meu ver a mais provável, pelo fato que o rei de Portugal (embora ainda menino) era o lendário Dom Sebastião, o qual, por sua vez, tinha esse primeiro nome em homenagem ao santo. E a quem, obviamente, Mem e Estácio de Sá deviam obediência … e puxa-saquismo. Daí o batismo.

Dom Sebastião o rei-menino e sumido

Mas há um terceiro porquê: por que São Sebastião passou a ter tantos fiéis e seguidores no Rio? Ao que parece só perde para São Jorge em quantidade de seguidores. Bom, de novo, algumas hipóteses. Primeira: ele foi “traduzido” para a Umbanda e corresponde a Oxóssi, rei das matas. Ora, o Rio é cercado por elas. E em um nível mais universal, o próprio espiritismo o acolheu como um espírito de luz.

Finalmente, e no caso carioca o mais relevante, é que ele foi reconhecido pelos grupos LGBT como um ideal homoerótico e um símbolo de luta. E assim como pela sua biografia ele foi um cristão que não teve medo de se assumir, mesmo pagando um alto preço (a vida) e teve a coragem de se mostrar, assim como os homossexuais precisam de coragem para se assumir e se mostrarem como são.

representação clássica de São Sebastião

Aliás, é importante pontuar que São Sebastião é o santo masculino mais retratado na história da arte. E a imagem clássica de seu corpo, seminu, indefeso, flechado, nos remete à força tranquila dos que aceitam o seu destino com determinação.

Por Reinaldo Paes Barreto